A tríade que está te impedindo de ser Feliz
Quantas vezes, só hoje, você reclamou de alguma coisa? Sejamos honestos — é quase natural. O trânsito estava um caos, o café não estava bom, o chefe cobrou algo que você já entregou... Enfim, a lista pode ser longa. E o julgamento, então? Sempre que vemos algo que nos desagrada, lá está o nosso julgamento, meio automático, pronto para apontar um defeito. E aquela sensação de que as coisas sempre acontecem contra você, que você é vítima das circunstâncias? Bom, esses três comportamentos, reclamação, julgamento e vitimização, formam uma tríade poderosa e, muitas vezes, perigosa.
Gostaria de explorar com vocês como essas atitudes, que talvez façam parte do nosso dia a dia, podem estar nos aprisionando em um ciclo de escassez, limitando nosso potencial e até afetando nossa saúde. E, como sabemos que só apontar o problema não resolve nada, vou falar também sobre como podemos transformar esses hábitos para criar uma vida mais abundante, cheia de propósito e de possibilidades.
A Reclamação: Quando o Foco Está no que Falta
Vamos começar pela reclamação. A reclamação, meus amigos, é quase um esporte nacional. E, claro, ninguém aqui está dizendo que você não pode expressar insatisfações. Mas precisamos entender o que a ciência diz sobre o impacto de reclamar constantemente. Cada vez que reclamamos, estamos treinando nosso cérebro a focar no negativo. Sim, nosso cérebro cria redes neurais que reforçam padrões de pensamento — então, quanto mais reclamamos, mais ele aprende a ver o mundo sob essa lente crítica. É um ciclo vicioso.
Estudos mostram que a reclamação constante ativa a amígdala, que é aquela parte do cérebro responsável pelo estresse. E aí entra o cortisol, o famoso hormônio do estresse, que, em doses altas e frequentes, pode comprometer nosso sistema imunológico, nossa memória e até nossa capacidade de tomar decisões.
Aqui podemos lembrar dos filósofos estoicos. Eles diziam algo que é absolutamente relevante: não adianta lutar contra o que está fora do nosso controle. Epicteto, por exemplo, afirmava que devemos aceitar o que não podemos mudar e concentrar nossa energia naquilo que está ao nosso alcance. Então, quando mudamos o foco da reclamação para a aceitação e a ação, começamos a abrir espaço para novas possibilidades. Afinal, é aí que mora a verdadeira liberdade.
O Julgamento: Projetamos Nossas Dores nos Outros
Agora, vamos ao segundo elemento da nossa tríade: o julgamento. Quantas vezes, ao ver uma situação ou alguém, nós já temos uma opinião formada? Muitas vezes, julgamos as pessoas sem saber sua história, suas motivações, ou o que estão passando. Mas, na verdade, o que estamos julgando nos outros é muitas vezes uma projeção de algo em nós mesmos.
Carl Jung, um dos grandes nomes da psicologia, nos ensina que “o que negamos em nós, projetamos nos outros”. Ele diz que aquilo que nos incomoda nos outros é, na verdade, algo que está mal resolvido dentro de nós. Ao entender isso, percebemos que o julgamento é, em grande parte, uma barreira para o nosso próprio crescimento.
Existe um mecanismo no cérebro chamado viés de confirmação. Ele faz com que busquemos informações que confirmem nossas crenças já estabelecidas. Isso quer dizer que, se você já formou um julgamento negativo sobre alguém, seu cérebro vai buscar evidências para reforçar essa opinião. É como se a nossa mente dissesse: “Veja, você estava certo em julgar!” Só que, ao fazer isso, criamos um filtro que limita nossa visão de mundo, impedindo que vejamos as coisas por outros ângulos.
O filósofo Baruch Spinoza dizia que, para compreendermos verdadeiramente o mundo e as pessoas, precisamos suspender o julgamento e buscar entender o que está por trás de cada ação. Esse exercício, além de promover empatia, reduz aquele ciclo negativo de pensamentos, abrindo caminho para uma mentalidade de abundância.
Vitimização: A Perda do Controle
E chegamos ao terceiro elemento da tríade: a vitimização. Quantas vezes sentimos que a vida não nos dá chances, que as coisas sempre dão errado para nós? Quando adotamos essa postura, o que estamos fazendo é abrir mão do nosso próprio poder. É como se disséssemos: "Nada depende de mim." A vitimização nos coloca em um lugar de total impotência.
A psicologia estuda esse fenômeno com o conceito de “locus de controle”. Pessoas com um locus de controle externo acreditam que tudo na vida depende de fatores externos: sorte, circunstâncias, outras pessoas. Essa visão é muito comum em quem se sente vítima das circunstâncias. O problema é que isso gera paralisia, inação, porque se acreditamos que não temos poder algum, para que nos esforçar?
E aqui a filosofia estoica, mais uma vez, nos oferece uma sabedoria poderosa. Epicteto nos ensinava que, mesmo diante de situações difíceis, temos controle sobre a nossa reação. Não podemos controlar o que acontece ao nosso redor, mas podemos escolher como reagir. E essa é a chave para retomar o poder sobre a própria vida, rompendo com a escassez e abrindo espaço para a abundância.
A Tríade e a Mentalidade de Escassez
Agora que entendemos os três comportamentos, vamos pensar em como eles, juntos, criam um terreno fértil para a escassez. Se passamos o tempo todo reclamando, julgando e nos vitimizando, estamos reforçando uma visão de mundo onde nunca há o suficiente, onde nunca somos bons o suficiente, e onde as oportunidades parecem escassas. O que ocorre é que o nosso cérebro, quando condicionado a esses pensamentos negativos, entra em modo de sobrevivência. Esse modo reduz nossa criatividade, nossa capacidade de inovar e até nossa disposição para explorar o novo.
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard mostra que quando o foco está no negativo, o cérebro fica limitado em perceber alternativas e novas oportunidades. A mentalidade de escassez gera uma espécie de “túnel mental”, em que só enxergamos o problema e perdemos a visão ampla do cenário. Aquele antigo ditado popular "se você procurar, vai achar" é bem verdadeiro aqui. Se o foco é a reclamação, o julgamento e a vitimização, é isso que encontraremos.
Construindo uma Mentalidade de Abundância
A boa notícia é que existem várias formas de treinar o cérebro para desenvolver uma mentalidade de abundância. Vou compartilhar algumas práticas com vocês.
1. Prática da Gratidão: Ao focarmos no que temos, em vez de no que falta, começamos a reprogramar nossa mente para enxergar mais possibilidades. Manter um diário de gratidão, onde anotamos três coisas pelas quais somos gratos todos os dias, é um exercício simples e muito poderoso.
2. Mindfulness e Meditação: Essas práticas ajudam a observar nossos pensamentos sem reagir automaticamente a eles. Com o tempo, conseguimos perceber quando estamos reclamando ou julgando e, assim, temos a chance de escolher uma resposta diferente.
3. Empatia e Autoanálise: O exercício de se colocar no lugar do outro e analisar nossos próprios sentimentos nos ajuda a reduzir o julgamento. Quando nos damos conta de que todos enfrentam desafios, abrimos espaço para mais compreensão e menos julgamento.
4. Assumir Responsabilidade: Em vez de adotar uma postura de vítima, podemos escolher responder conscientemente às dificuldades. Essa é a essência do estoicismo: focar no que está sob nosso controle e aceitar o que não está. É uma forma de empoderamento, pois assumimos a responsabilidade pelas nossas escolhas e atitudes.
Quero que vocês reflitam: que tal substituir reclamação por gratidão, julgamento por empatia e vitimização por responsabilidade? Esse é um exercício constante, mas que, a longo prazo, transforma vidas. E, ao transformarmos a nossa vida, criamos um impacto positivo no mundo ao nosso redor.
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