O Inconsciente e o Ganho Oculto
O inconsciente humano é uma camada profunda da mente que rege grande parte de nossas ações, muitas vezes sem que percebamos.
Quando procrastinamos ou nos entregamos à preguiça, há quem diga que o inconsciente acredita estar nos protegendo de algo. Mas será que ele realmente "acredita" nisso, ou estaria apenas reagindo de forma instintiva, buscando preservar nosso bem-estar imediato?
Os Instintos e a Procrastinação
Sigmund Freud, ao explorar o inconsciente, identificou que muito do nosso comportamento é guiado por instintos primários, como o instinto de autopreservação.
Esses instintos não são racionais; eles operam como respostas automáticas às ameaças percebidas – sejam físicas, emocionais ou sociais.
Quando evitamos uma tarefa difícil ou permanecemos inertes, pode parecer que o inconsciente está nos protegendo de um possível sofrimento, como o medo do fracasso ou da crítica.
Por exemplo:
Instinto de Sobrevivência: Se uma tarefa é percebida como muito desafiadora ou ameaçadora, o inconsciente pode acionar uma resposta de "fuga", levando à procrastinação.
Instinto de Conservação de Energia: A preguiça pode ser uma expressão do corpo preservando energia para demandas futuras, mesmo que não haja uma ameaça real no momento.
O Inconsciente Busca Ganhos ou Evita Perdas?
Mais do que buscar ganhos, o inconsciente parece estar programado para evitar perdas ou danos.
Daniel Kahneman, psicólogo ganhador do Prêmio Nobel, descreveu isso em sua teoria da aversão à perda: preferimos evitar uma perda a conquistar um ganho de valor equivalente.
Esse mecanismo pode estar em ação quando adiamos algo, como se o desconforto imediato de enfrentar uma tarefa fosse percebido como uma "perda" maior do que o benefício futuro de concluí-la.
Porém, essa percepção nem sempre é precisa. O inconsciente não "julga" a realidade; ele reage com base em experiências passadas, condicionamentos e instintos. Assim, o "ganho oculto" frequentemente é apenas uma interpretação errônea do que realmente acontece.
Preguiça, Procrastinação e Instintos Mal Adaptados
Na sociedade moderna, muitos dos nossos instintos, que eram cruciais para a sobrevivência no passado, tornaram-se mal adaptados. Por exemplo:
Fuga do Estresse: No passado, evitar uma situação estressante – como um predador – era essencial para a sobrevivência. Hoje, o estresse de uma apresentação no trabalho pode acionar a mesma resposta de fuga, levando à procrastinação.
Busca de Recompensas Rápidas: Nossos ancestrais precisavam aproveitar recompensas imediatas, como comida disponível, para sobreviver. Atualmente, esse instinto pode nos levar a escolher prazer imediato (assistir a uma série) em vez de recompensas de longo prazo (concluir um projeto).
A Função da Psicanálise: Tornar Consciente o Instintivo
Carl Jung afirmou que "enquanto você não tornar o inconsciente consciente, ele dirigirá sua vida e você o chamará de destino".
A psicanálise tem como objetivo revelar esses processos instintivos e automáticos, permitindo que entendamos por que reagimos de certas maneiras.
Ao identificar os instintos que estão dirigindo a procrastinação ou a preguiça, podemos questionar se eles realmente nos protegem ou se estão apenas perpetuando padrões ineficazes. Por exemplo:
Autopreservação Mal Interpretada: O inconsciente pode evitar uma tarefa difícil porque associa esforço a sofrimento. Mas, ao trazer isso para a consciência, percebemos que o esforço, na verdade, nos leva ao crescimento.
Conservação de Energia Irrelevante: A preguiça pode ser uma resposta instintiva para "economizar energia", mas em um contexto onde não há ameaça real, essa economia é desnecessária.
O Inconsciente e a Ilusão da Proteção
O inconsciente não "acredita" no ganho oculto no sentido racional, mas reage a impulsos instintivos que, no passado, foram essenciais para nossa sobrevivência.
No entanto, esses instintos nem sempre são úteis nos desafios modernos. Ao trazer essas respostas automáticas para o consciente, podemos perceber que o ganho oculto é frequentemente uma ilusão – e, com isso, assumir o controle sobre nossas escolhas e ações.
Como Jung bem disse: "Não somos o que nos aconteceu, somos o que escolhemos nos tornar."
Em resumo, preguiça e procrastinação são o resultado de uma má adaptação inrerpretativa do inconsciente para a autopreservação. Desta forma, não há qie se falar em ganho oculto, pois tudo se torna uma questão de economia de energia. Logo, economizar não é ganhar.
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