Nenhum homem presta?




"Homens não prestam", ela pensava.

Não era uma frase que havia nascido do nada. Era uma armadura, forjada em silêncio, a cada vez que se sentiu escolhida por último, enganada, descartada.

Primeiro foi o pai ausente, depois o namorado que prometeu eternidade e desapareceu ao primeiro sinal de tempestade. Amigas contavam histórias parecidas, e a cada relato, ela cravava essa verdade um pouco mais fundo dentro de si: confiar era tolice. Amar era perigoso.

No início, parecia proteção. Quando alguém se aproximava demais, ela já estava pronta para encontrar o defeito, prever a mentira, construir o muro. E quando as decepções vinham — porque, de algum modo, sempre vinham — ela pensava: "Eu sabia. Eu sempre soube."

O que ela não percebia era que o mundo que via era pintado pelas cores da sua própria dor.
A ternura sincera parecia interesse oculto.
O cuidado espontâneo parecia obrigação disfarçada.
O amor possível parecia armadilha.

Sem querer, ela própria se tornara prisioneira daquilo que mais temia: a solidão.
Não porque os outros fossem sempre cruéis, mas porque a sua ferida antiga fazia com que ela enxergasse neles apenas as sombras, nunca a luz.

Um dia, sentada diante do espelho, cansada do peso nas costas, ela se perguntou em silêncio:
"E se nem todo amor for igual ao que me feriu?"
"E se a culpa não for de todos, mas da história que eu carrego sem perceber?"

As lágrimas vieram, silenciosas. Não eram de raiva — eram de luto. Pelo amor que não viveu, pelos abraços que recusou, pelas possibilidades que matou antes de nascerem.

Naquele dia, ela não curou tudo.

Mas entendeu que a cura começava não em mudar os outros, mas em abrir espaço dentro de si para acreditar que o amor — o verdadeiro — ainda era possível.

Mesmo para quem, por tanto tempo, acreditou que não.

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