Porra!! Palavrões como válvula de escape emocional
Recentemente, tive uma conversa interessante com um parente mais velho sobre palavrões. Daquelas conversas que começam despretensiosas, mas que, de repente, revelam um abismo geracional. Ele me dizia que nunca entendeu por que as pessoas falam palavrão — para ele, isso sempre soou grosseiro, desnecessário, quase como um sinal de má educação ou falta de autocontrole.
Mas havia mais por trás da sua resistência. Ele me contou que, na infância dele, qualquer palavrinha fora do script — até mesmo um simples “droga” ou “caramba” — podia render um tapa na boca, uma palmatória, ou coisa pior. Falar palavrão, naquela época, era um ato proibido e perigoso. Não se tratava apenas de moral ou respeito, mas de medo real. Expressar-se com liberdade podia significar castigo físico, humilhação, repressão.
Expliquei que a nossa geração cresceu em outro cenário. Que a linguagem, como tudo na cultura, se transforma. E que os palavrões, hoje, muitas vezes não são sobre falta de respeito, mas sobre liberdade emocional. Para muitos de nós, eles viraram formas de desabafo, identificação, humor, até afeto entre amigos. Criamos uma nova dinâmica com as palavras proibidas — e, com isso, fomos desatando os nós que a repressão nos deixou na garganta. Isso tudo me fez refletir.
Palavrões são, acima de tudo, expressões catárticas. Eles surgem em momentos de dor, raiva, frustração, surpresa ou até alegria intensa. O corpo e a mente precisam de um canal para descarregar tensões reprimidas. Quando somos impedidos de expressar nossas emoções de forma saudável — como acontece com crianças que sofrem punições físicas, gritos, humilhações — essa energia contida precisa explodir em algum lugar. O palavrão, nesse sentido, é uma explosão simbólica.
Na época da palmatória, ajoelhar no milho, tapa na boca por “falar demais” ou “responder”, muitas crianças eram ensinadas que expressar dor, revolta ou opinião era errado. A emoção era sufocada, mas não desaparecia. Crescendo, essas mesmas pessoas buscavam formas de se libertar emocionalmente. E o palavrão — carregado de força, transgressão e impacto — surge como uma maneira inconsciente de romper com o silêncio imposto.
Falar palavrão é uma forma de desafiar as normas sociais e linguísticas. Em contextos onde a repressão era a regra, usar um palavrão podia ser a primeira forma de revolta, de marcar território, de afirmar-se como sujeito frente à autoridade. É como dizer: “agora eu posso falar o que quiser, ninguém mais me cala”.
Segundo Freud, tudo que é reprimido tende a retornar de forma distorcida. Palavrões podem ser uma forma simbólica de retorno do reprimido. Jung diria que os palavrões são expressões do lado sombrio da psique, o que também faz sentido: eles carregam a energia crua do instinto, da raiva, do desejo. E justamente por isso, têm tanto poder.
Muitas pessoas usam palavrões não por falta de vocabulário, mas por excesso de sentimento. São como pontes entre a dor contida e a liberdade de expressão. Quando usados com intenção, até viram recursos poéticos, cômicos ou terapêuticos.
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