O Álcool como Refúgio: A Fuga pelas Sombras da Consciência
O consumo excessivo de álcool, para além de um hábito social, muitas vezes esconde uma função psíquica profunda: a fuga.
Não se trata apenas do prazer imediato ou da desinibição, mas de uma tentativa desesperada de escapar de dores internas, conflitos não resolvidos e traumas que ecoam desde a infância.
A bebida, nesse contexto, transforma-se em um anestésico emocional, capaz de silenciar vozes internas que gritam por reconhecimento e cuidado.
Na perspectiva da psicologia profunda, especialmente em Jung, o álcool pode representar uma forma de contato com a sombra — aquela parte inconsciente de nós mesmos que contém tudo aquilo que reprimimos, negamos ou tememos.
Quem se alcooliza frequentemente pode estar, sem saber, tentando abafar essa sombra ou, paradoxalmente, aproximar-se dela de maneira desordenada.
O efeito desinibidor do álcool pode liberar impulsos reprimidos, revelando traços de raiva, tristeza ou fragilidade que foram sufocados ao longo da vida.
Muitos desses impulsos têm raízes em experiências da infância. Crianças que cresceram em lares com repressão emocional, onde expressar sentimentos era perigoso ou inútil, podem desenvolver uma relação disfuncional com suas próprias emoções.
Com o tempo, esses afetos não expressos acumulam-se como uma carga psíquica insuportável. O álcool, então, surge como um escape — uma porta que se abre para adormecer o sofrimento e calar o que não foi ouvido.
Essa busca por alívio, no entanto, raramente traz cura. O alívio é temporário, e o vazio retorna com mais força.
A verdadeira libertação começa quando a pessoa se dispõe a olhar para sua dor, acolher sua sombra e compreender suas repressões sem julgar. Só assim é possível transformar o álcool de refúgio em escolha consciente — talvez, um dia, dispensável.
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