As Janelas Que Se Fechavam Sozinhas

Era uma vez uma menina que vivia numa casa cheia de janelas. Cada janela dava para um pedaço do mundo: um campo dourado ao entardecer, um rio preguiçoso, uma estrada que sumia no horizonte. Todas as manhãs, ela abria cada uma com cuidado, querendo ver o dia nascer por todos os ângulos. E então, sem que percebesse, algumas janelas começavam a fechar sozinhas. Não eram as janelas mais bonitas. Eram as que davam para o mato fechado, para as tempestades, para o lobo que, às vezes, rondava a floresta. A menina começou a notar que, por mais que houvesse luz do outro lado, seus olhos teimavam em buscar as frestas escuras. Era como se algo dentro dela dissesse: "Olhe o perigo. Cuide-se. Prepare-se." Com o tempo, ela já nem se interessava mais abrir as janelas boas. Seu corpo corria até as janelas trancadas, suas mãos tocavam o vidro gelado, sua respiração se prendia. Ela não sabia, mas sua mente, aquela poderosa guardiã ancestral, havia sido treinada para isso: detectar o que ameaça,...